Assim
como eu, vovó também gosta de se sentir importante. Por isso que até
hoje, toda vez que passa na frente da Shoestock, conta que ela ia comigo
e com a minha irmã, pequenininhas, comprar sapato na pequena loja das
gêmeas, e que uma vez encontrou com elas na ponte aérea. Ou será que
vovó encontrou com elas na ponte aérea, e mamãe comprava sapato conosco
lá? Não lembro bem. Nem se eram mesmo gêmeas as donas da loja.
Bom,
o que importa é que, os diamantes que me desculpem, mas o posto de
melhor amigo das mulheres está com os sapatos. E o sucesso da pequena
loja das gêmeas prova isso. Tudo bem que a análise econômica vai dizer
algo que tem a ver com a ascensão da classe C (não que a classe C
consiga comprar sapato na shoestock, mas, por favor, abstraiam e
considerem a conjuntura) e ao consumismo exacerbado dos brasileiros,
mas, cá entre nós, a gente até pode comprar roupa na GAP, mas sapato,
sapato bom mesmo, vem de Franca e outras cidades com a mesma vocação.
Todo mundo que eu conheço tem uma história para contar que estava em
Paris/Miami/Milão e amou um sapato que era “made in Brazil”.
Ufanismos
à parte, outro dia tive uma sensação estranha, que até agora me
intriga. Estava a caminho do Expo Center Norte e, ao olhar para a minha
esquerda, deparei-me com um enorme galpão com letras gigantes indicando o
nome da loja aí de cima. Juro, aquilo parecia maior do que um shopping
center inteiro, e olha que eu tinha acabado de passar na frente do maior
shopping da América Latina.
Eu
até hoje não sei se fiquei estupefata/assustada ou absurdamente
encantada/hipnotizada. Ao mesmo tempo, vieram à mente duas imagens
complementares e opostas, se é que isso é possível- o paraíso dos
sapatos, todo iluminado, organizado, com prateleiras tamanho 36 a perder
de vista, eu, com um carrinho de compras cheio de sapatos de todas as
cores e modelos, passando meu cartão de crédito em 5 vezes... e, ao
mesmo tempo, um monte de mulher com sotaque do interior de SP (siiiim,
acredite, elas vêm de Franca pra SP comprar sapatos!) e de outros
lugares do Brasil - porque, como acertaram o restante dos brasileiros,
só paulista acha que não tem sotaque - se esbofetando, disputando o
último par de rasteirinhas com cristais svarovksi, must da estação,
disputando vaga como se fosse 24 de dezembro no shopping, dividindo as
compras no cheque pré-datado...
Eu
me vi em ambas as situações. Eu me encaixaria perfeitamente (ok, eu não
tenho sotaque) nos dois cenários. Ainda mais se eu estivesse
acompanhada da Ginu. Só sei que olhinhos brilharam naquela noite em que
refletiram, na minha visão não-mais-míope, o neon verde. O que será que é
verde, o paraíso ou o inferno? Acho que vou ter que ir lá tirar a
dúvida.
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