quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Mudança de perspectiva

Imaginem a cena: domingo, 11h e pouco da matina, o sol brilha lá fora mas Marido tem que revisar trabalho, preparar aula, etc. A casa está parecendo casa de solteiro (recado sutil da funcionária doméstica para dizer que não tem nada de comida). Nenhuma perspectiva ou vontade de sair para almoçar. Opções para moi? Arrumar (a.k.a. jogar fora) papéis, ler, tomar sol, caminhar, ou ir ao mercado.

Mesmo sabendo que mercado de domingo é lotado, coloco meu disfarce de roupa de ginástica e crocs (agora você já pode dizer que conhece um usuário de crocs), pego minhas sacolinhas retornáveis e vou para a luta.

Saio do elevador, dou de cara com a velhinha do terceiro andar: "Nooooossa, como você tá gordiiiiinha!!". E me bombardeia com perguntas sobre o meu estado gestacional. Se eu trabalho, se eu não uso salto, se eu estou me sentindo bem.

Menos preocupada com as minhas respostas do que com contar sobre a sua experiência, dona vizinha conta sobre seu filho que vai fazer 52 anos e que até, 30 de setembro de 1960, ela trabalhava (corretora de imóveis, sabe?), usava salto, não sentia dor nenhuma. Mas naquele dia resolveu ir ao médico porque estava se sentindo meio estranha, e o doutor mandou ela ir correndo para casa pegar a mala da maternidade porque o rebento dela ia nascer. Needless to say que foi de parto normal, né, pessoal.

Então, olha, mulher não sente dor. É só colocar na minha cabeça que mulher não sente dor e pronto. E pode usar salto (porque naquela época ela tinha que usar salto, né, ela trabalhava). E pode trabalhar, viu. Porque ela, no auge dos seus - sabe quantos anos eu tenho? - 85 anos, ainda roda 370 km toda quinta feira para ver os loteamentos dela no interior. Graças a Deus é o último, mas está lá firme e forte como uma marreta.

E fui ao mercado pensando que, de fato, ela está firme e forte. Dirige relativamente bem o seu carro, é bem  adequada socialmente (bom, almost always, mas palavras de uma gordinha, o que não é tão confiável), vive sozinha, parece ter boa saúde, e a cabeça funciona muito bem. Tem seus 5 minutos de todo velhinho, mas faz parte.

E, então, poxa, saí dali pensando quero eu chegar aos 85 anos mais ou menos assim como ela. Mas não pensei muito, porque senão ia me distrair na direção e iam me culpar por estar grávida e conseqüentemente avoada e ruim de roda. Enfim. Antes de chegar ao mercado (5 minute drive) eu já tinha desistido de ser como ela, porque, cá entre nós, se ela com 9 meses de barriga trabalhou de salto até o último dia e não sentiu dor nenhuma, ela é de fato wonderwoman, e tô longe disso. E, olhem só, ela teve filho depois dos 30, viu. Fui sincera ao dizer a ela que espero chegar na idade dela com toda aquela saúde e disposição, mas, no fundo, acho que minha geração é tão junkie que não vou conseguir. Antes ficaremos surdos (culpa dos fones de ouvido nas alturas que todo mundo no elevador e no metrô também escuta), cegos (alguém duvida que essa exposição excessiva de computador + esse tempo seco e poluído não fazem mal à saúde dos olhos?), com problemas de pulmão e de obesidade bem antes do que esses vovôzinhos e papaizinhos que cresceram com bonecas de pano ou de espiga de milho, carrinhos de rolimã e bolas de meia.

Aí a gordinha aqui foi na aula de yoga para gestantes (que na época da dona vizinha ainda não existia, certamente, porque nem precisava fazer exercício, porque todos eram esbeltos e saudáveis e grávida não precisava de tratamento especial). E aí comentei de leve o fato com a minha super professora. E, em menos de 30 segundos, lembrei porque eu faço aula de yoga com uma Guru incrível e - importante mencionar - psicóloga: para me sentir bem. Física e emocionalmente.

Ela fez um comentário que me fez ver as coisas de outro modo. E a gordinha ficou feliz. Lembrou-me ela que, na época da dona vizinha, não tinha trânsito de 3 horas todo dia, não tinha estresse de celular tocando depois do expediente e necessidade de responder emails na mesma hora, o ar era mais puro e a cabeça das pessoas era mais tranqüila. Não tinha a oferta obscena de guloseimas (ok, essa parte eu que inventei), tinha tempo para ir no açougue+mercearia+peixaria+feira para comprar os melhores produtos, e não precisava sair correndo num domingo de sol para comprar tudo meia boca no supermercado mais perto.

Pronto. Agora só preciso continuar a fazer yoga para sempre (gordinha ou não, who cares) com a minha Guru para tudo continuar a ficar bem...









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