segunda-feira, 21 de maio de 2012

Muito laquê, pouco jeans

Ontem fomos ao magnífico concerto do Lang Lang na Sala São Paulo, oferecido pela Cultura Artística

Primeiro, porque era um programa imperdível. Depois, porque tiramos a sorte grande e conseguimos ingressos (thanx as usual, Ildo), ainda por cima em lugares que nos deixavam cara a cara com o chinesinho simpático. E terceiro, porque estamos investindo na construção de uma herança cultural para nossa família.

"Chinesinho simpático": let me explain. Cheguei lá sabendo que ele fez algumas exigências que logo me fizeram ficar com birra dele. E, vocês já devem saber, para eu pegar birra de alguém, não precisa muito. 

Aí, antes mesmo de ele chegar todo sorridente naquele terninho de hobbit oriental, fico sabendo que aquelas cadeiras extras em cima do palco foram colocadas de última hora, dado o sucesso do espetáculo (ou, cá entre nós, dada a carência de concertos bons que temos no Brasil). Mas não eram cadeiras para qualquer um, mas para garantir uma exigência do músico: que fossem ocupadas por estudantes de música, e que cujos ingressos fossem distribuídos de graça. Ponto pro Lang2.

 E aí ele entrou e começou a tocar Bach, Schubert, Chopin. Ou seja, tudo o que estava no programa. Mas que programa! E aquelas mãozinhas pequeninas se mexiam de forma mágica, e criavam sons inusitados, vibrantes, sensíveis, silenciosos até, de uma maneira que não lembro de ter ouvido antes.

Acabou-se o programa, o que ele tinha que fazer. Diante dos aplausos - e de gente apressada ignorando que também em concertos de música clássica é possível ter bis (e aí Madonna inova e no seu show pop em playback ela recusa os bis) - ele volta, agradece de novo Dona Lu, primeira dama do Estado, e executa Liszt. Mais aplausos, mais gente indo embora, e ele volta e diz, em inglês, que vai tocar uma música chinesa. Juro, linda. Parecia de um conto de fadas da Disney (e não, não estou sendo irônica). E, acabando-se em sorrisos, o hobbit chinês se vai e a luz finalmente acende, indicando que, agora sim, é hora de ir embora.

Pronto, esvaía-se minha birra de vez.

Mas não vim aqui para falar só disso. Eu adoro a Sala São Paulo. E gosto ainda mais dela aos domingos, quando não tem trânsito para chegar. E passei a gostar ainda mais quando descobrimos um caminho ninja para chegar lá, e um caminho ninja cracolândia-free para sair de lá.  É um lugar organizado, com estacionamento (com Sem Parar!) grande e amplo, com acústica ótima, lugares bons de se sentar, que tem uma carga histórica incrível, crepes gostosinhos e uma lojinha de cd bem respeitável. Ah, sim, e Nespresso. Acho que deveríamos ter mais lugares assim. Dá gosto de sair e saber que não vai ser um stress para achar lugar para parar, que vai ter um lugarzinho para um lanche de última hora, e que seu lugar vai ser bom de sentar.

Enfim, tampouco vim para elogiar a Sala SP.  Estou nos devaneios porque estou no meio da aula de administração da produção, e está difícil prestar atenção ou não conversar com Silvinha, minha mais nova (sim, isso tem duplo sentido) amiguinha do curso. Amiguinha porque ela é pequenina de corpo, mas amigona porque acho que o corpo todo dela é só coração e simpatia. Mas vamos lá.

A idade média do público ontem, sendo boazinha, era de uns 65 anos. Isso porque, no palco dos estudantes, tinha um chinesinho gorducho, de seus 9 anos, que acho que era filho do cônsul da China em SP. Ele baixava sensivelmente a média. E marido e eu também. Mas considere que havia diversos representantes dos 70, alguns inclusive com sorinho. Fiquei então pensando nas seguintes variáveis:
(1) será que nós nascemos com "gosto de velho"?
(2) se sim, o que será que esses velhinhos gostavam quando eram jovens? Quero muito saber, porque a preferência musical deles aos 70 é admirável.
(3) será que o ingresso é muito caro, e só os velhinhos da alta sociedade paulistana podem arcar com o custo? Bom, o ingresso mais caro era de R$ 260 reais, salvo engano R$ 330 reais. Posso estar fora de mercado, mas acho perfeitamente razoável esse preço para um artista consagrado mundialmente, com a qualidade que ele tem, e considerando a política estranha (para ser polida) de meias-entradas no nosso país. Um show de uma banda juvenil de qualidade duvidosa deve ser mais que isso.
(4) será que não foi bem divulgado? Bom, estava completamente esgotado um mês antes, então acho isso difícil.

Então me resta pensar que, muito possivelmente, nossa sociedade está emburrecendo, ao menos do ponto de vista musical. O que é tão triste que prefiro mudar de assunto ("otra vez", copiando o título dos diários do Che).

[PS: apesar do título deste post, não sei se tenho opinião formada sobre o dress code desses eventos. Deixo para uma próxima reflexão]

Comentei acima que Dona Lu, e-le-gan-tér-ri-ma (a ponto de Marido achar que era Gloria Kalil), foi ocupar seu camarote. Ela, alguns muitos seguranças e algumas muito (mais) assessoras e amigas. Não quero aqui falar de política. Vou falar só da função primeira-dama/social que ela foi cumprir. Em praticamente todos os concertos que vamos lá na Sala SP, aquele camarote do Estado fica vazio. A Sala inteira lotada, e aquele ali às moscas.

Então, se Dona Lu escolheu ir ao Lang Lang, ponto para ela, que, apesar de não ter 65 anos ainda, já tem bom gosto musical.

Comportou-se muito bem, Dona Lu. Reparei porque estava bem na frente dela. Eu embaixo, ela em cima. Simbólico até. Não dormiu, não ficou conversando, não tossiu, aplaudiu na hora certa,  não foi embora antes da hora, sorriu pro pianista quando ele fez reverência a ela, enfim, quase impecável.

Aí Dona Lu, num rompante de humanidade, caiu do salto e sua barriga começou a brilhar. No começo fiquei encucada se era o programa oferecido pela Cultura que estava emitindo luz própria. Ela o tinha aberto, e aquele poderia ter sido feito especialmente para ela, para brilhar. Depois, imaginei que ela pudesse ter comido algo reluzente no almoço, sei lá, alguma invenção do chef do Palácio.

Mais non! Dona Lu checava seu celular!!!! Ou seja. Com três filhos criados, não poderia haver nenhuma emergência da babá. Com assessoras ali presentes para resolver eventuais pequenas crises, tampouco poderia ser algum probleminha do seu cargo. Aí pensei: Dona Lu é como nós. Provavelmente recebeu um torpedo do amado Geraldo, ou então queria checar a hora, ou, mesmo, estava vendo o facebook oficial, o twitter do Serra, sei lá.

E aí, ao invés de ficar indignada, fiquei inspirada. Porque ela estava super elegante e estava lá ouvindo boa música. E aí percebi que, para eu ficar igual à ela (no nível que me interessa ficar, por óbvio), só falta eu ficar elegante também. Então bora checar sua quase sósia, a Glorinha, e listo. Ou quase.

Só mais dois assuntos. Da tosse e do fato de o pianista ser meio autoritário e meio mimado.

Concerto em maio, no frio, em época de vacinação de gripe, em uma São Paulo extremamente seca. Resultado? Gente doente. Gente gripadérrima que, apesar de tudo, deveria ter ficado em casa. Imaginem que uma das peças (Shubert, salvo engano) tinha um compasso de silêncio. Foi uma pena. Lang Lang para, conta na cabeça seu compasso em silêncio, com as mãos suspensas e...silêncio geral?

Claro que não! Miríade de tossidos, "ram-ram"s, propaganda de Vick Vaporub total. E antes fosse só nessa hora. Durante todo o concerto não se passaram 3 minutos (não, não cronometrei, mas deu vontade, e o teria feito se meu celular não brilhasse como o da Dona Lu e se a voz da Sala não tivesse avisado que não só o som, mas também a luz do telefone incomoda) sem que houvesse alguém tossindo. Tossindo feio.

O pessoal da produção deveria fazer uma campanha ou com a Secretaria da Saúde, para imunizar o público contra a gripe logo na entrada no espetáculo (God knows que ali tinha bastante gente do grupo prioritário para vacinação), ou então com alguma marca de balas de hortelã cuja embalagem não faça barulho ao abrir - sim, porque também tivemos esse problema ontem.

Tem um código de conduta em concertos de que não se pode tossir durante o espetáculo. Sendo impossível controlar isso, o elegante é se ausentar. O que dói no bolso e no ouvido (próprio), porque você paga o ingresso e fica sem ouvir o que você queria ouvir. Mas, garanto, dói muito mais no ouvido daqueles que têm que agüentar você tossir. E, se você for um ser minimamente social, vai se incomodar em ouvir seu tossido ecoar num auditório com mil pessoas em silêncio, ou vai se incomodar com aquela velhinha que (com razão?) reclama cada vez que você tosse.

Uma vez, no Auditório Ibirapuera, o da lingüinha vermelha, compramos, de última hora, ingressos que uma senhora estava vendendo porque a amiga dela, que iria acompanhá-la, tinha ficado gripada, e portanto achou melhor não ir. Achei incrível a atitude da acamada. E, ironicamente, fiquei com vontade de conhecê-la e de agradecer pessoalmente por ter nos dado a oportunidade de ver o show.

Bom, vamos à coda que isso está parecendo uma novela. Eu fiquei pensando que as demandas esdrúxulas e um pouco autoritárias do Lang Lang podem ser reflexo da própria nacionalidade dele. Autoritário e mimado, e que gosta de ver as vontades dele sendo atendidas. Porque, se fosse no país dele, pelo que ouvimos por aí, ele não teria qualquer chance de ter escolhas e de fazer exigências. E então deu vontade de ser psicóloga para ver se isso tem algum sentido ou é pura ignorância de minha parte (aliás, idem para a relação entre o absurdo que aconteceu com a Xuxa na infância e a escolha profissional dela em fazer Xou para baiXinhos). E a birra do chinesinho foi-se de uma vez por todas.









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