terça-feira, 6 de novembro de 2012

A concha

Passado quase um ano, resolvi acabar com a farsa. Sim, minha saída do Facebook foi uma farsa. No começo até que não. Eu realmente saí e não pretendia voltar. Aí vieram viagens com o Marido e inevitavelmente algum comentário sobre alguma inserção social de alguém; ou Ginu queria que eu visse alguma foto fofa... Enfim. Logo logo invadi a conta dele e dela. Com as devidas permissões, por óbvio.

O experimento tinha uma causa nobre - sair da concha, da caverna virtual a que eu estava inserida, e tentar a vida - veja só que ousada - como nos velhos tempos. Sair, mandar mensagem de texto, ligar, escrever emails, combinar encontros com os amigos. Não era bem uma forma de protesto - eu não queria ver quem era de fato meu amigo e quem era só amigo de facebook. Porque isso a gente já sabe, sente, instintivamente, né?

Mas eu buscava relacionamentos mais especiais. E uma pontinha (inha?) de ego queria ver quem sentia minha falta, quem me procurava. Não tive nenhuma surpresa nesse front. Procuraram-me pessoas que eu já sabia serem especiais. E outras que eu me surpreendi positivamente, e com quem criamos novos laços de amizade. Foi muito legal.

Foi não, está sendo. Eu ando meio nostálgica de tudo, mas acho que vocês já perceberam isso pelos meus textos sobre brinquedos infantis e afins. Voltar às origens também significa voltar aos valores mais elementares de caráter e personalidade. E tudo isso - essa experiência, ainda que bem falha - fez com que eu voltasse a ver e acreditar na possibilidade e na importância disso tudo.

Um dos objetivos da criação do blog foi para suprir minha necessidade de expor meus pensamentos. Foi a primeira coisa que escrevi por aqui, não é segredo para ninguém. Acho que isso já denuncia que eu nunca ia conseguir me livrar das "redes sociais", cujo objetivo mor é se expor aos outros - usualmente de forma feliz e contente, porque ninguém quer expor seus podres e ninguém quer saber dos seus podres - não assim, abertamente, pelo menos.

A questão é: devemos nos livrar delas, das redes sociais? Hoje acredito que não. Como tudo na vida, encontrar o equilíbrio é, para mim, o segredo da felicidade eterna. Talvez porque eu não tenha pretensão nenhuma de combater o vício da nossa sociedade, hoje, negar-se a participar dessa parte virtual de nós mesmos é, ironicamente, tão suicídio social como considerá-la a única faceta importante de nossas vidas.

Se não pode vencê-la, junte-se à ela? Pode ser. Outro dia li sobre uma pessoa que fez um experimento chamado "100Face" - 100 pessoas sem Facebook. Muitas delas não agüentaram, diziam que ficaram sem vida, etc. Aí eu me peguei pensando - ou eu realmente sou muito old-fashioned por ainda ter contatos não virtuais, ou esse povo realmente embarcou numa onda sem volta e negou tudo o que sempre existiu antes.

Eu sei que eu não sou muito revolucionária - acho que faço a linha mais reformista. Mas às vezes acho que essa ruptura radical com padrões que sempre funcionaram não é muito racional. Não dá para seguir a via do meio, com um pouquinho de cada coisa, quiçá do melhor de cada? Tudo bem, cada um que encontre o seu "melhor", mas duvido que o "melhor" desse povo seja negando tudo o que existia antes.

O que eu notei nesse ano foi que eu me senti mais abraçada e mais querida. Perdi a vergonha e passei a procurar mais as pessoas, e outras também me procuraram. E isso tudo valeu muito a pena, e pretendo continuar a cultivar, cada vez mais, esse tipo de relacionamento.

Também notei que a curiosidade pela vida alheia - quase uma nova profissão, a de detetive - não diminuiu muito, apenas mudou o modo de se expressar. As pessoas ainda querem saber umas das outras, mas não pela via "reta". Ao contrário, querem saber dos outros sem que esses outros saibam que elas estão fuçando a vida delas. E não estou fora desse círculo não. Só acho que isso é errado. Se a gente se importa com alguém, vai direto na fonte e fica perto dessa pessoa. Se a gente só quer saber do outro sem contatá-lo, ou estamos diante de uma onda de timidez que colossalmente atingiu o mundo, ou então de uma onda de gente que só quer se sentir melhor com a desgraça alheia.

Esses dias entrei no Instagram. Achei legal aquilo de colocar fotos e de jeitos diferentes. Já estava namorando o Instagram do Marido, e, movida pelo espírito do equilíbrio dito aí em cima, descobri que esse aplicativo poderia ser usado também para os reles mortais que não têm um iPhone. Então, depois de alguns dias, eu já tenho uns 10 seguidores e estou me sentindo hiper pop. Só que eu percebi que minha vida anda realmente um marasmo, pois até agora não me empolguei para colocar nenhuma foto. Alguém se interessaria pelas minhas andanças na casa, disputando espaço com a santa da funcionária, em trajes que lembram pijamas? Acho que não.

Estou quase voltando ao Facebook. Voltando com meu próprio login, so to speak. Ainda estou um pouco reticente. Acho que gostaria de voltar à rede das redes apenas quando minha vida tiver um pouco mais de live action, ou seja, quando o pequerrucho nascer (o que pode acontecer a qualquer momento!). Antes disso talvez eu fique muito viciada. Afinal, presa em casa, depois de fazer o básico - ler jornal, tomar banho, comer, ler um pouquinho de um livro, ver uma seriezinha e checar uns emailzinhos -, o que mais sobra no dia dessa pessoa, ainda mais agora que inventei de não comer doce (o que me impede de passar horas na cozinha fazendo doces)? É, acho que vou esperar mais um pouco.


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