segunda-feira, 30 de abril de 2012

Quando o real encontra o virtual

Acaba de me acontecer algo muito estranho.

Eu sigo alguns blogs. E, em alguns desses blogs, as pessoas colocam fotos delas mesmas e acabamos sabendo detalhes das vidas delas (porque elas contam, diga-se de passagem).

Aí que eu estava passeando no shopping e, pimba, dei de cara com uma dessas blogueiras que se enquadram no perfil acima. Por uma fração de segundo, fiquei meio sem saber o que fazer. Sabe quando você sente que conhece a pessoa, e tem obrigação (educação, melhor dizendo) de ir lá falar com a pessoa, cumprimentar e tal?

Quase fui. Mas aí parei no sorriso que eu tinha esboçado e lembrei que, na verdade, só eu que a conheço. Ela não me conhece. E, tal como acontece com as celebridades, isso aqui é uma via de mão única. Se eu fosse lá falar com ela, além de protagonizar uma cena ridícula, certamente ela ia me achar uma louca. Então virei os olhos para a vitrine do outro lado e continuei meu passeio, não sem ficar pensando nisso por um bom tempo.

Engraçado como o mundo nos obriga a reinventar formas de se relacionar, não? Eu ainda estou me sentindo como aquelas pessoas que fingem que não vêem alguém e viram a cara (ou seja, falsa e mau caráter). Mas, de fato, como mais eu iria agir? Eu mesma fico morrendo de vergonha quando encontro alguém famoso - e, aí sim, finjo que não vi.

É como se essa pessoa fosse famosa no meu mundo só. Claro que não é, pq o blog dela é bacanudo e deve ter váááárias visitas e seguidores.

Talvez ela tivesse uma reação blasé, talvez ficasse orgulhosa de si mesma (in a good way), talvez ficasse feliz em saber que eu fiz uma adaptação do bolo de queijo que ela sugeriu no blog dela (e foi por isso que a achei in the first place). Mas agora ficarei só imaginando.

Bom, quem sabe da próxima vez eu saiba melhor como me portar.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Só sei que nada sei

E aí que eu agora resolvi digitalizar todas as pastas e textos e, basicamente, tudo que não é livro da minha época de faculdade. Por enquanto, dos dois bacharelados. Depois vou decidir se farei o mesmo com as coisas do mestrado.

Achei que meus armários poderiam ter uso melhor. E, cá entre nós, achei também que, depois de quase 6 anos sem abrir toda aquela papelada, ela poderia muito bem ser substituída por um par ou um trio de DVD-R, e passar a ocupar uma parte de uma gaveta, ao invés de todas as prateleiras superiores de todos os quartos da casa (secretamente, estou esperando do fundo do meu coração de que esta sutil mudança vai convencer Marido a fazer o mesmo com as coisas dele. Isso sim seria uma reviravolta na casa!).

Pouca gente entende, mas fazer arrumação me faz bem. Parece que organiza a alma. Uma gaveta bagunçada me tira do sério. Quer dizer, não me faz surtar, mas algo dentro de mim parece que não está bem. Sempre fui assim. E, como opostos se atraem, needless to say que Marido é totalmente o inverso. Mas ele tem o sistema de organização dele, e tenho que respeitá-lo (ele, não necessariamente o sistema...).

Mas não comecei a escrever aqui para falar dos benefícios de ter uma casa com menos papel, mais espaço, menos ácaros, traças e menos cheiro de naftalina. Escrevo porque, se considerarmos minhas anotações de aula, cheguei à conclusão de que minha educação formal superior foi bem mais superficial do que eu havia imaginado. Não me refiro nem à qualidade do ensino, que isso daria pano para muitas outras mangas. Estou me referindo à minha vagabundice.

No primeiro ano, todas as minhas anotações estão perfeitamente em ordem, fazem sentido. No segundo ano, começam a proliferar os xerox de cadernos, as anotações sem cronologia, os textos que não casam entre si. Parei agora de organizar no terceiro ano. Acho que foi o ápice do desleixo. E pior - vocês lembram da empresária oficial da Francisca, né? Então, antes de entrar no ramo do show-biz, ela fez faculdade comigo. 

Pasmei, de verdade, quando vi que tenho um monte de xerox de aulas que ela foi e eu não fui. Pessoal, isso não é possível. Eu é que sempre ia às aulas. Ela é que sempre estava em milhões de outros grupos de pesquisa, trabalhando que nem louca. Tem alguma coisa errada com a minha percepção do mundo.

After all, eu fazia 2 faculdades ao mesmo tempo, mas parece que as fiz de forma medíocre. E é muito triste constatar isso depois de tanto tempo. Quisera eu ter tido esse lampejo uns anos antes, a tempo de corrigir esse rumo e, quem sabe, hoje saber um pouco mais da vida. E seguir mais conselhos da empresária da Francisca, essa sim que sabe das coisas.

Aí que agora eu, que sempre fui a defensora de que dá, sim, para fazer - bem - dois cursos universitários ao mesmo tempo (se um deles não for medicina, por supuesto, ou então algum desses cursos que te fazem ficar na faculdade em período integral até o terceiro ano, ignorando que, no Brasil, não podemos "só" fazer faculdade, mas temos que trabalhar também - this is not Harvard, babe), agora estou revendo meus conceitos.

Aliás, quais conceitos? Estou mais é vendo algo que devia parecer óbvio para um monte de gente, menos para mim. Dura constatação para uma segunda-feira.

Traíra

Queijo, vinho e chocolate terão que se contentar em ficarem em segundo plano mais uma vez. Pirei com essas camisetas da OQ Vestir. Pena que as frases estão todas em inglês. Ainda tenho um resquício de ufanismo da minha língua portuguesa e um pouco de resistência em cair na tentação de ficar usando frases em inglês pelas ruas de São Paulo. Mas a paixão por sapatos talvez supere este dilema moral:







Taí um bom presente de dia das mães para a Ginu.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A vez do queijo



Ou quase.

Eu tenho minhas dúvidas se é queijo, mas, pelo menos, cream cheese tem queijo no nome. E cheesekcake também. Creme de queijo (ou queijo cremoso) e bolo de queijo, se não levam o dito cujo, pelo menos nas aparências enganam bem.

Olhem que lindo o cheesecake que meu marido e sua sogra Ginu fizeram!!! Ginu comandou a massa com o marido como subchef, marido derreteu a goiabada para virar calda, e a única coisa que eu fiz foi enfeitar com frutinhas em cima.

Foi uma ótima desculpa para a família aparecer em casa no fim de semana!!!



segunda-feira, 2 de abril de 2012

Numa casa portuguesa, parte I: a epifania*

Manolo Quintão era um comerciante português que ficou com medo do Franco no país vizinho e resolveu emigrar para terras longínquas, quentes, cheias de índios, frutas exóticas, árvores grandes e gente falando errado a mesma língua dele, mas com sotaque.

Cá apaixonou-se pela distribuidora de rifas do Clube Social Português, Leonor Bastos. Casaram-se em três meses, tamanha era a vontade de se conhecerem melhor - e logo. Menos de 9 meses depois, nasceu a primeira de suas três filhas. Alguns dizem que Manoelita nasceu prematura; outros, prematuramente, chegaram a diferentes conclusões.

Apesar da beleza estonteante de Leonor, Manoelita nunca foi bonita, tendência que se verificou, também, em suas irmãs gêmeas Manoela e Manoelina. Leonor sempre disse a Lita, Lela e Lina que a beleza delas era "exótica", o que intrigava as meninas, que cresceram ouvindo que o país em que nasceram é que era exótico. 

Mas elas não eram nada parecidas com o restante daquele povo cor de canela e cheio de ginga.

Sentindo-se culpado por ter criado raízes em local que não dava alegrias a suas filhas tão amadas, e, também, por ser o detentor do gene dominante que passou às suas crias, Manolo andava amuado, com os olhos baixos, em seu armazém de secos e molhados.

Até que um dia quente de fevereiro, ao invés de enxergar baratinhas e rabos de lagartixa no chão atrás do balcão, Manolo teve uma visão que mudou para sempre a vida da família Bastos Quintão. Lita, então com 15 anos, mas ainda uma moleca, tinha se permitido tirar os sapatos enquanto o horário de pico do Armazém BQ ainda não chegava.

Ao ver seu pai fitando com determinação seu par de pés, Lita logo começou a tentar se explicar. Estava quente, ela já iria colocar o sapato fechado, foi só por um minutinho, não fique bravo, papai. Antes de conseguir terminar, porém, Lita notou um brilho tipo de papel celofane com o reflexo do sol nos olhos de seu pai. E, por medo do desconhecido, parou de falar, de se mexer, quase que de respirar.

Mas não foi preciso esperar muito. Manolo tratou de desembuchar toda a sua idéia. Chamou Lina e Lela, que espiavam, curiosas e apreensivas, detrás da cortina de tecido que comunicava o armazém com a residência dos Bastos Quintão, e pediu para que tirassem os sapatos.

Lembrando de seus tempos de criança descalço às margens do Rio Côa, Manolo se recordou da beleza de seus pezinhos. Viajando mentalmente até a primeira noite junto com Leonor, viu nela um defeito que quase lhe fez anular o casamento - os pés de sua bela Leonor eram o inverso de seu rosto angelical.

Pela primeira vez, Manolo orgulhou-se de seu gene dominante. As meninas tinham belos pés, tornozelos bem torneados, unhas saudáveis e de boa forma, e cinco (ufa) dedos harmoniosos em cada pé.

[Aliás, essa era a grande preocupação de Manolo quando as meninas nasceram, ainda mais as gêmeas, que estrearam no mundo após um parto sofrido de 30 horas: o papai só respirou aliviado ao ver que elas tinham 5 dedos em cada pé (e em cada mão, o que não importava muito neste momento epifânico de Manolo).]

[Cenas do próximo capítulo: indisponíveis. Mas logo publico o restante da novela]


*Pode não parecer, mas esta história é pura ficção. Eventuais semelhanças com a vida real são meras coincidências.